quinta-feira, janeiro 31, 2008

Para Sempre!


Abraça-me!
Abraça-me até o sol acontecer. Cinge na alma e na dor a marca do teu peito aberto à faca, rasgado, sonhado... morto!
Permite-me. Deixa que penetre no teu corpo, que durma debaixo da tua pele. Que te mate a minha ausência! Deixa-me arrancar aos pedaços as marcas entranhas do teu ser.
Pede-me para gritar ao teu ouvido o suspiro quente da morte que te busca, suplica que te toque uma última vez, pede-me...
Pede-me um abraço.
Abraça-me!
Esconde em mim o que velho sentes. Foge dos esquivos minutos que te cruzam e te espetam a pele como lanças, como passos que te esmagam a distância, como luzes no escuro das palavras...
Afoga em mim as menos águas, menos líquidas, menos sólidas mágoas. Gotas de crer e de verdade, de amor e de saudade.
Abraça-me até ao redondo beijo da noite escura que nos separa. Leva-nos aos passos caminhos do percurso até à vida, voa comigo pelas fases da lua em claro e esgota o desejo dos Deuses de guardar na mente uma noite mais... para sempre!

2008

terça-feira, janeiro 29, 2008

Coisas


Mórbidas curiosidades do ser que delimitam vontades e abrem no espaço infinito mil forças revoltas, amargos retratos, repulsas visíveis pelos olhos cansados da guerra.
Quero mundos vazios, pretos e brancos, espaços tranquilos e vozes que me gritam docemente no escuro de um sonho tranquilo.
Quero o som de uma lágrima, a cor de um desejo reprimido, recuso ver abertos os passos meus no eco da estrada imensa caminhada, pisada pelo voo raso de um suspiro último. Quero o negro... quero o silêncio...
Ignoro as voltas que o mundo dá. Desejo para mim a solidão de quem está só, amo a sombra de mim na humidade das pedras vazias.
Sublimes voltas giradas em torno de uma vida pequena, da mísera condição humana, reles carne do corpo deslocado, caído esquecido da própria existência.
Quero o sangue escuro em todas as tonalidades, compungentes sentimentos, marcas que queimam o frio da mão pesada, mortificada.
Quero abrir-me como um livro e deliciar-me na leitura de infinitos caracteres rasgados com a raiva do tempo. Quero ler-me, saber o nada e esquecer. Conhecer o âmago das coisas.
Como que coisas? Sim, simplesmente... coisas!

2008

sexta-feira, janeiro 18, 2008

Espaço


Todo um nada que se desfaz em mil pedacinhos num tudo, palmos abaixo da terra dura sangrenta que destrói o Homem e lhe consome a carne.
Prazos feltros do olhar pela janela da visão em movimento, de um vulto quedo no olhar triste de uma criança enferma. É hora...
Tempos pardos, que nos puxam e deleitam, num doce embalar de noite acabada por criar ou transparentes invisíveis, sufocantes silêncios que calados bravos seguram a ténue linha da própria esxistência. Chega...
Minutos laivos, leves, levianos, portas que gritam e relógios que não sabem a hora de bater. Escuros dedos, sombras perdidas no clarão da infância latente na memória esquecida de um velho putrefacto pedaço de vida passada. Morre...
Pazes que salgam as vidas guerreadas, partidas dos homens que por la viveram e dos vermes, reles e bestas que com eles dormem na terra e lhes fedem o corpo. O fim...
Morreram...

2008

terça-feira, janeiro 15, 2008

Não Díades Mas Tríades


Podridão do sangue que corrói as veias do corpo moribundo, num ritmo rápido lento do tempo casto pecado. Rasto sombra das correntes que me prendem o olhar triste, seco, espelhado na lágrima que, de dura, quebra a exígua marca da minha pele.
Acre duvida escura, deambulante, que separa a minha mão fria do osculo nervoso, quente, deleitoso…
Oh, rude textura da voz que sucumbe o meu corpo e me atira para a negra profundeza do mar teu que me devora.
Segue o respirar da entranha humidade ao teu ouvido, foge da chama vida que persegue separa. Corre desejado dos braços meus apagados.
Vem… corre para mim!

2008

domingo, janeiro 13, 2008

Drowned in the Mountains


Na mais profunda negrura de um espaço outrora vivo, morri eu para o azul oprimido, vermelho sangrento, de um mar cujo doce sal me provou o gosto e me levou o fio da existência.
Nas escabrosas ondas do sólido monte, negro no fulgor da lua, planei o meu corpo morto, moribundo e deixei-me deixar de viver. Cessei e estingui a chama defunta do cadáver fogoso que era eu...
Morri. Bebi do mar que cercava a costa de mim e consenti que me inundasse o fôlego. Permiti que as águas profundas me respirassem e elevei o corpo a Neptuno, que me beijava os cabelos molhados, pendentes...
Fechei os olhos e provei o ósculo nocivo, molesto do esplendoroso fio de luz clara, lunar, que me sorvia a cada pedaço.
Morri. Deixei quedos os dedos entrelaçados na dor inexorável que me banhava o corpo.
Quedos foram os momentos em que abracei essa clara luz e deixei que o mar suplicasse...
Cedi ao desejo de adormecer. Pequei, fechei os olhos uma vez mais... e deixei-me perder...

2008

segunda-feira, janeiro 07, 2008

Recado

Há dores que nem se sentem, no entanto permanecem no nosso corpo e na nossa mente, disfarçadas de outra coisa qualquer...

2008

quinta-feira, janeiro 03, 2008

Saudades de Casa

A Agravante da Saudade é a Persistência
da Memória.

2008

quarta-feira, janeiro 02, 2008

Adeus


Abriste a porta.
O sorriso marcado no teu rosto,
Lábios que não mentem...
Estavas de partida!
Os teus olhos fitaram a minha sombra
Queda, leve, triste...
Afinal... estavas de partida!
Porquê?
Porque não?
Nunca me deste a certeza que ficarias.
Nunca a mim disseste que me amavas...
E ali estavas tu, sorridente.
Pronto a deixar a pequenez do meu mundo,
Pronto a levar contigo a luz da lua
E todas as estrelas contadas
Nos dias em que tas ofereci... por amor!
Guardaste o meu sorriso no bolso
Afinal... estavas de partida!
Não me deste a mão antes de sair
Como sempre fazias nos meus sonhos.
Partias sem mim, sem a minha mão fria...
Disse-te adeus e baixei a cabeça.
A imagem de te ver sair não me agradava.
Desejei fortemente que me abraçasses,
Que cingisses com carinho os teus braços à minha volta,
Mas ali estavam eles...
Braços quedos, falecidos, sem amor
Apenas o sorriso que mantinhas nos lábios.
Adormeci.
Morri cem mil vezes para renascer mais cem mil tantas.
Acordei...
Afinal... sempre partiste!

2007