segunda-feira, novembro 26, 2007

Palavras


Como a lágrima que escorre para o infinito,
Deslizo eu entre as tuas palavras.
E vejo nelas o espelho reflectido
Da minha miserável existência.
Entras em mim
E reviras todo um obscuro manto de pensamentos,
Um turbilhão de sentimentos...
E escreves-me nas tua palavras,
Deixando-me fluir mais uma vez
Para a mais amargurada tristeza chamada Vida.
Só tu me levas pelos caminhos esquivos da noite
E me fazes adormecer no escuro do meu íntimo,
Onde moram as vozes incessantes e sujas da consciência,
Que me embalam ao som daquilo que mais ardentemente desejo...
Palavras tuas.

2007

quarta-feira, novembro 21, 2007

Tu!


O timbre melodioso da tua voz
Que me arrepia a pele
Qundo me sussurras ao ouvido.
O calor dos teus lábios
Quando beijas docemente o meu corpo.
A inquietude do teu olhar
Quando me observas do fundo da sala escura.
Os teus olhos que penetram em mim
Como a fusão de dois corpos nus,
Na humidade da noite do primeiro beijo.
As mãos que são tuas e me tocam o corpo...
Mãos que me sentem o sangue
Fervente, grosso, imundo...
Sangue que me corre nas veias,
Reles caminhos abertos
À fria morte que me busca.
Reles caminhos abertos para ti,
Meu amor...
Fazes-me falta!

sexta-feira, novembro 16, 2007

Como A Folha Que Cai...


Como uma folha que desliza
Pela humidade
De uma fria e escura noite de Outono.
A cada folha que cai
Chora um homem,
Morre um ser,
Fere a humanidade
Com mil pecados
Envoltos na sombra da memória...
Na escuridão do desejo...
A cada folha que cai
Fere o pecado um coração.
E a cada ferida que dói
Brilha no escuro uma lágrima
Que a tristeza deixou correr.
Dá-lhe vida,
Dá-lhe luz
E brilha...
É feliz na dor...
É como a folha que cai...

2007

quinta-feira, novembro 08, 2007

Espectros


Espero
Mas estou consciente
De que esta espera tem sido longa,
Que os anos têm sido longos.
Anos que, apesar de poucos,
Têm sido longos…
Espero por quem afinal?!
Espero por elas…
Elas sussurram,
Chamam o meu nome
E eu oiço-as…
Elas cantam e aconchegam-me os cobertores
Enquanto repouso tranquilamente no meu leito.
Elas acariciam-me o rosto
Enquanto durmo e sonho
Com o fim deste pesadelo.
Elas? Sim, elas!
As vozes que chamam por mim
E me adormecem todas as noites.
Essas vozes que não param
Mas acabarão por parar meu coração
Mais cedo ou mais tarde.
Enquanto elas pairarem sobre os meus cobertores
E gritarem dentro da minha cabeça.
Enquanto eu acordar de sobressalto
Todas as noites
E gritar bem alto
Para que elas saiam de lá!
Não sei pensar,
Não me lembro de ninguém.
Estou fechada entre quatro paredes
E o espaço entre elas diminui.
Está a ficar demasiado pequeno para mim.
Elas movem-se…
Elas fecham-se…
Acabarão por se fechar de todo
E eu vou desaparecer lá dentro.
Tenho medo, muito medo…
Eu penso… elas gritam…
Choram…

2003

Eutanásia


Onde estou, não sei.
Estou fechada entre as quatro paredes da morte,
Esperando que me tragam
O amargo cálice da perda da vida.
Eu bebo!
Tragam-mo que eu bebo!
E vou saborear cada trago
Assim, como se fosse
O mais saboroso elixir da vida.
Assim, como se fosse
A mágica poção da rejuvenescência…
Oh! Amarga vida!
Oh! Boca que provarás
Daquele cálice impiedoso!
Eu bebo!
Tragam-mo que eu bebo!
E deixarei aqui meu corpo,
E levo daqui minha alma.
Vai alma bebida em sangue!
Vai alma!
Vai e não voltes mais!

2003

terça-feira, novembro 06, 2007

Coisa Ruím (À Doença)


Sai de dentro de mim.
Sai, abandona o meu corpo!
Tu que te prendes dentro de mim,
Que me roubas a vida
E me roubaste a infância,
Sai de dentro de mim!
Cresci. Mais do que devia,
Muito mais do que queria
E tornei-me velha
Na tenra idade da infância.
Mas estou bem consciente da tua presença.
Sei que me roubarás a vida,
Mais cedo ou mais tarde.
Sai de dentro de mim, peço-te…
Sai de dentro de mim, ordeno-te que saias!
Não será por tua culpa,
Que não poderei amar de novo.
Não será por tua culpa!
Sai de dentro de mim, peço-te…
Coisa ruím, que me absorves.
Coisa má, que me consomes
E levas para bem longe
A esperança de amar alguém.
Tenho medo, mas não de ti!
Tenho medo de me deixar levar e amar
E tu, sem ordem nem razão,
Me levares para longe…
Não percebes?
Amar é um dom.
É vida! É liberdade!
E não será por tua culpa,
Que eu serei pássaro sem asas
E não tenha liberdade para voar.
Não será por tua culpa,
Coisa ruím,
Dentro de mim.


2002

quinta-feira, novembro 01, 2007

Anjos Negros


Asas negras que esvoaçam,
Que pairam sobre mim
E me levam a alma.
Anjos negros que dormem nas trevas
E despertam nos meus sonhos.
Estranhos cupidos da morte
Que sorrindo me lançam
As suas flechas do sono.
Embalam-me e cantam a dor
E levam-me ao sonho da morte...

2005